não-binário

Moda unissex, agênero, binária, genderless, gender-bender

O termo unissex, criado nos anos 1960, habitualmente usado para designar roupas e penteados que podem ser usados por ambos os sexos, vem caindo em desuso. Mais amplo e um pouco mais atual do que ele, o termo plurissex busca abranger uma ideia de inexistência de gênero ou de todos os sexos para uma mesma moda.

Por Yanaí Mendes*

Este também vem sendo substituído por nomes como agender, agênero, genderless ou moda não binária. 

Todos esses termos buscam defender a ideia de que cada indivíduo, seja do sexo feminino ou masculino, pode e deve vestir-se com o que bem entender, com o que lhe faz sentir-se bem, sem ter que se adaptar a estruturas pré-definidas. 

Assim essa “nova moda” tende a descartar a necessidade que uma pessoa tem de recorrer ao guarda-roupa de outra, do sexo de nascimento oposto, a fim de encontrar peças que a façam se sentir feliz e completa em seu modo de expor sua identidade e aparência ao mundo.

Voltando rapidamente na história, é sabido que homens e mulheres já tiveram, ao longo do tempo, muito mais liberdade no vestir do que têm hoje.

Com o passar dos anos, homens foram ganhando distinção e liberdade com o uso de calças e vestes mais formais e as mulheres se mantiveram presas aos vestidos.

Quando começou a Primeira Guerra Mundial, em 1914, as mulheres se viram obrigadas a assumir funções antes destinadas apenas aos homens, enquanto estes se encontravam nas batalhas.

Marcadas por essas obrigações, as vestes femininas já não cabiam mais e elas tiveram que começar a usar calças compridas para trabalhar.

Na sequência, essa mesma mulher começava a ganhar dinheiro, ter mais independência na vida cotidiana e ser um pouco mais dona de si.

Na moda, logo depois do final da Guerra, conhecemos Coco Chanel, uma mulher avant-garde que, apesar de não se considerar feminista e nem defender as feministas do período, trouxe imensa contribuição à luta por igualdade quando, ao se inspirar nos guarda-roupas masculinos, usava calças compridas, além do corte de cabelos curtos, o famoso Chanel dos anos 1920.

Apenas no final do século XIX, a imposição pela diferença começa a ser questionada pelas mulheres. 

Na década de 1960, nos Estados unidos, o movimento feminista, alguns movimentos sociais, os movimentos das causas da comunidade LGBTQ e os relacionados à contracultura – como hippie e hip-hop – questionaram os papéis de gênero e o vestir masculino/feminino que nos enquadrava no sexo de nascença.

O movimento hippie, em 1960, trouxe à tona o que começou a ser divulgado como moda unissex, com homens e mulheres dividindo, de maneira natural, o guarda-roupa que, naquele momento, se tornava muito mais fluido, colorido e menos marcado no corpo.

Os visuais mais andróginos também apareceram, com personalidades das artes e da música que usavam peças consideradas femininas, como vestidos, camisas mais folgadas, calças boca de sino feitas para homens e mulheres, cabelos compridos e maquiagem.

Yves Saint Laurent foi buscar nas ruas referências para sofisticar essa ideia de unissex e criou um dos looks mais polêmicos e conhecidos nessa discussão, o Le Smoking (1966), eternizado na fotografia de Helmut Newton.

O oposto, um homem com vestes femininas, foi aparecer pela primeira vez em um desfile de moda masculino, em 1985, com Jean Paul Gaultier e seguido por diversos outros estilistas no final dos anos 1980 e 1990, na alta da androginia.

Nesse período, as mulheres começavam a competir com os homens no mercado de trabalho e o vestuário feminino se viu espelhado no masculino com o uso intenso de blazerstailleurs e camisas, fato que se repete até hoje, porém, que começa a ser cada vez mais questionado pelas mulheres.

No final dos anos 1990, a figura das drag queens e o cenário queer começam a ganhar mais notoriedade, apesar de ainda serem vistos como engraçados e caricatos.

Personalidades transexuais e transgêneras também começam a ter mais espaço na televisão e cinema e ajudam a manter essa discussão viva dentro e fora do campo da moda.

Na sequência, nos anos 2000, essa pauta ganha mais potência com os holofotes se direcionando a algumas modelos que começam a virar o rosto de certas marcas e produtos, como a brasileira Lea T, uma das mais importantes e notadas, que chegou a ser o nome da Givenchy.

No cenário do entretenimento, Caitlyn Jenner estampou a capa de revistas e representou a gigante H&M.

Hoje, o assunto é fervoroso não apenas na indústria, mas também em instituições acadêmicas com cada vez mais alunos de Moda se preocupando em questionar padrões e códigos de vestimenta, em estudar públicos-usuários com a necessidade de transitar livremente entre o que é considerado masculino, feminino e o que possa não ser taxado como nenhum destes.

No Brasil, a C&A foi uma das primeiras grandes lojas de varejo a encorajar as pessoas a trazerem suas identidades para a moda, com a campanha “Tudo lindo & misturado” que, na época, foi muito controversa, assim como a Avon, com uma coleção de maquiagens estrelada também por artistas que, em suas imagens, transitam entre gêneros.

O problema de ações como a da C&A é que, na indústria, o assunto ainda é delicado e, muitas vezes, acabamos ficando presos na “coluna do meio”, onde as roupas para quem procura o agênero vêm acompanhadas da falta de silhuetas definidas e de cores fortes e marcantes.

E por falar em cores: rosa ou azul? Até o início do século XX, o uso dessas cores era oposto ao que estamos acostumados hoje: o rosa, associado ao vermelho, ao sangue, ao forte, logo destinado aos meninos, e o azul, à delicadeza e à calma e, portanto, voltado às eternas e românticas meninas, ideais de uma sociedade tradicional.

Após a Segunda Guerra Mundial, contudo, há uma inversão desse conceito, apoiado fortemente pela famosa boneca Barbie, ressaltando o uso da cor rosa para as meninas parecerem sempre femininas.

Nos anos 1980, o aparelho de ultrassom começa a mostrar o sexo dos bebês e, com isso, vem o boom dos enxovais. Como em uma sociedade efêmera tudo muda e evolui constantemente, hoje temos uma enxurrada de pais que buscam a neutralidade em seus enxovais ou o uso de cores como laranja, verde, amarelo, para que as crianças cresçam mais livres e possam elas mesmas escolherem como se mostrar para o mundo ao envelhecerem.

As próprias crianças, também, muitas vezes, preferem o uso “oposto” das cores e formas que lhes são predestinadas, visando cada vez mais liberdade para expor suas identidades ao mundo com maior aceitação, como Shiloh, filha dos atores Angelina Jolie e Brad Pitt, que ganhou atenção da mídia desde muito pequena, quando se mostrou ao mundo preferindo usar o estilo tomboy e que, agora, aos 11 anos, inicia um tratamento hormonal para mudança de sexo.

Temos visto o crescimento massivo de pessoas questionando padrões pré-estabelecidos nas semanas de moda, nacionais e internacionais, com cada vez mais representantes da moda queer e da moda agender, mantendo o debate do binarismo de gênero vivo.

O futuro e a fluidez de gênero permanecerão, ainda, durante um bom tempo, controversos e polêmicos, porém, enquanto houver debate e luta por igualdade e liberdade de expressão, a moda continuará cumprindo seu papel social de mudar a vida das pessoas, e nós, educadores do campo, pretendemos incentivar que tais debates, pesquisas e criações nunca morram antes de chegar ao mercado.

*Yanaí Mendes é mestre em Design e professora dos cursos de Design de Moda e Negócios da Moda da Universidade Anhembi Morumbi

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Autor Coluna Sexologia

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